Não tenho simpatia, a mínima possibilidade de voto ou qualquer avaliação positiva em relação a certo personagem que se alça na cena eleitoral como provável presidenciável, representando o pensamento mais extremado à direita do arco ideológico brasileiro. Nem cito o nome dele, para não colocar um grão de areia sequer no seu veículo "brucutu".
Nos últimos dias, o referido cidadão passou a alvo de algumas suspeitas e ataques veiculados pela grande mídia e dentre estes uma acusação: ele e seu filho, parlamentares, recebem "auxílio-moradia" mesmo tendo propriedade própria no Distrito Federal. Não pude fugir ao pensamento irônico: "só esses dois, cara pálida?". Milhares de juízes e promotores, singulares ou membros de órgãos colegiados, outros parlamentares, etc e etc, percebem auxílio moradia mesmo tendo imóvel de sua propriedade na cidade onde cumprem suas funções. Há total razão para se indignar diante de tal absurdo e distorção. Mas, não se pode inquinar um determinado beneficiário de algo que é regra, praxe, costume consolidado. Deve-se voltar a santa revolta contra a regra em si mesma, fazer veementes manifestações em prol de que seja expressamente proibido receber o tal benefício quando possui imóvel seu.
Tomo, de propósito, um personagem pelo qual não tenho o mínimo apreço, para que nenhum sentimento ou simpatia possa ser inquinado no que desejo argumentar.
No Brasil que mais pensa em acertos de contas do que no progresso nacional, mais em punir do que em construir, nessa onda que vivemos atualmente em especial contra os que são originários do voto popular, toma-se com facilidade hábito cristalizado, costume arraigado ou até regra vigente com a qual não se concorde e usa-se isso para inquinar alguém pessoalmente como se cometendo um crime ou ação punível. Não se luta pela mudança do costume ou da regra, mas apenas pela punição daquele alguém. Repetem-se casos assim nesses tempos. Resultado: uma pessoa sai chamuscada, mas o hábito errado continua, a norma que amparou aquela conduta vige e outros a praticam. Não seria melhor discutir a regra em si, o costume desvirtuado e propugnar para suprimi-los ou alterá-los?
Quem realmente deseja um Brasil melhor buscará consolidar práticas mais saudáveis, regras rígidas e explícitas que generalizem vedações de certas condutas. Não basta a tática de ataques seletivos e com interesses momentâneos.
Todo o dia nos deparamos com isso: as redes sociais ou a mídia escolhem alguém para nele mirar suas poderosas armas. E as pessoas se escandalizam dominadas pela emoção. Fulano faz isto. Beltrano fez aquilo. Ninguém se pergunta: é permitido pela regra? É costume infelizmente consolidado? Somente ele pratica ou na sua função é usual? Acha-se um Judas para ser agredido, mas não se discute o hábito ou a norma. Melhor seriam manifestações grandiosas para mudar as regras permissivas, os costumes tolerantes e as práticas arraigadas.